Na década de 1960, uma mulher negra vai com o seu marido morar em um pedaço de terra na cidade de Bom Despacho, Minas Gerais.
Esta mulher chama-se Sebastiana Geralda Ribeiro da Silva, setenta e oito anos, filha de São Sebastão, sincretizado na Umbanda como Orixá Oxossi. Oxossi é o grande Orixá das florestas e das relações entre o reino animal e vegetal. Sebastião era um soldado que teria se alistado no exército romano por volta de 283 d.C. com a única intenção de afirmar os corações dos cristãos, enfraquecidos diante das torturas. Por volta do ano 286, a sua conduta branda para com os prisioneiros levou o imperador a julgá-lo sumariamente como traidor, tendo ordenado a sua execução por meio de flechas, que se tornaram símbolo constante na sua iconografia.
Dona Sebastiana recebeu o seu nome em homenagem ao guerreiro mártir, foi batizada pelos seus avós como filha de Oxossi, e hoje ela é também capitã da guarda de Moçambique, posto que, segundo ela, é apenas ocupado por homens.
Dona Sebastiana é mãe-de-santo, revela verdades sem meias palavras. A fé e a terra são fontes de força para o dia-a-dia da sua comunidade, que hoje ainda vive com poucos recursos financeiros.
Dona Sebastiana com o passar dos anos aprendeu e criou táticas de sobrevivência para enfrentar a sociedade à sua volta. Hoje ela apresenta-se como líder de comportamento “armado”. Equilíbrio entre alegria, angústia, e lutas constantes. A protagonista define-se como “nêga véia de senzala”.
Uma alma plural, múltipla, que representa um universo curioso de sabedoria. Tem jeito de africana, mas é brasileira, é brasileira, mas tem alma de africana.
A protagonista faz questão de manter e freqüentar da primeira hora até a última, as festas de reinado de sua região. Danças, cantigas, rezas, bençãos, entre tantos outros elementos da cultura popular afro-brasileira.
A figura desta mulher inspira o equilíbrio entre a fé nos milagres, e a triste luta da vida sem esperar por eles. Sabedoria dos santos e a realidade de nunca ter tido a oportunidade de aprender a ler e escrever como nós. Desafio ao pensamento humano sobre o que é verdadeiramente ter fé, e ser fé.
O documentário que está sendo realizado pela Caturra Digital tem a previsão de conclusão para este segundo semestre de 2012, e deverá ser exibido além de festivais, para grupos e lideranças Quilombolas de todo o Brasil.
Sinceros elogios e agradecimentos à equipe: Juliana Braga, Luciana Katahira, Larissa Cardoso, José Francisco Duarte, e Ana Paula Ferreira de Lima. Com a colaboração de: Sandra Maria da Silva, Gabriela Gois, e toda a comunidade Carrapatos da Tabatinga.
Já postaremos mais notícias.
Um grande abraço
Raquel Alvarez
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Bacana, Raquel! Gosto desta sua sensibilidade e seu jeito simples de escrever. Seu pai e eu queremos acompanhar o desenrolar deste trabalho.
Obrigada queridos, mesmo. Vamos lá juntos. Beijos